Um pouco bipolar





Que vontade de chorar, essa. Vontade de querer jogar as formalidades e sair gritando feito louca. Talvez seja uma fase de insanidade gratuita (ou não). Chuva costuma me deixar mais feliz. Café, também. Mas hoje sinto-me tão vazia, que por mais que o mundo passe a ser melhor, não sentirei nada. Estou oca. Ao mesmo tempo estou intensamente feliz. Sinto vontade de abraçar estranhos e sorrir para os animais. Sou como um belo fim de tarde, com um pôr do sol perfeito e calmo.
Começo a achar que sou o extremo de cada coisa. Mais um pouco e vou ser todas as pessoas em um corpo só. Sou homem, mulher, mãe, filha, orfã. Sou orfã de coisas pequenas. Não me importo tanto com coisas grandiosas. Deixe comigo um bom livro e algum café que já serei feliz.
O dia está passando muito devagar. Eu procuro correr para ter a impressão de que logo tudo terminará. Continuo sentada em uma cadeira de escritório, fazendo coisas que não são muito empolgantes e pedindo para ir pra casa logo. Preciso sair dessa loucura que é a responsabilidade e uma vida quase adulta.
Poderia pegar minhas coisinhas e viajar por aí. Conhecer novas pessoas. Sentir raiva e fazer amizade com gente diferente de mim. Visitar lugares calmos e outros mais movimentados. Poderia ir à Itália engordar com as massas e me encantar com o romantismo da cidade. Poderia ir à India experimentar uma religião diferente. Viver em um mundo diferente. Mas ainda assim, poderia ficar aqui sentada, esperando as horas passarem e depois voltar para casa e ligar a tv.
Poderia pedir comida japonesa ou fazer um sanduiche qualquer. Poderia ligar para um amigo ou deitar e dormir.
Sou tão instável que chega a dar medo. Em alguns momentos minha rotina e vida são verdadeiras interrogações. Se tivesse toda essa liberdade e coragem, teria conhecido todos os cantos desse planeta. Todos os Deuses. Todas as comidas. Teria gritado, chorado, xingado e morrido.
Se eu tivesse toda essa liberdade... Talvez fosse outra pessoa.

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