Tenho medo de fazer terapia e perder a inspiração. Não quero perder a minha insanidade. Me assusta ser uma pessoa convencional, que se preocupa com futebol e queima os neurônios com programas de tevê sensacionalistas e fúteis. Gosto dessa coisa paradoxal que é ler, escrever, sorrir e chorar baixinho. Gosto, mais ainda, de todos os devaneios que rodam a minha cabeça por horas e mais horas, expulsando o meu sono e tirando a minha paciência. Vou agarrar alguns travesseiros e viajar na minha mente. Vou fechar os olhos e sentir outros corpos. Rápido, tragam-me medicamentos e me encaminhem a um psiquiatra. Melhor, ignorem... Nada mais fácil que ignorar um louco poeta.
Já faz um tempo.
Há um tempo estranho lá fora: fecho os olhos, está chovendo, abro os olhos, o sol fere a retina. Tudo ao mesmo tempo. Há um tempo brando aqui dentro: fecho os olhos e estou calma, abro os olhos e nada fere minha alma. Há um tempo que esse estado de graça vem acontecendo, parece até provação divina, um dia após o outro e tudo se acalma novamente. Há algum tempo já estava esperando por isso. Não conto mais tantos dias ansiosos e ociosos. Conto dias produtivos e ativos. Há um tempo fico cansada a noite e durmo logo. Agora não é tempo de insônia e nem de pés balançando na cama. Há algum tempo meu coração está tranquilo, sente uma certa alegria e conforto. Não mais a agonia, não mais a apatia. Existe amor e esperança aqui. Há algum tempo, para ser exata, as coisas estão mudando e essa metamorfose vem clareando todos os espaços vazios e escuros da minha estrada. Há um tempo, eu acordo todos os dias e consigo ser grata.
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