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Mostrando postagens de 2015

(Des)encontro com a lucidez

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De repente, ao abrir os olhos rapidamente e enxergar tudo ainda embaçado, como em processo de criação, começo a sentir uma clareza enorme, que me anula, me faz regredir e sentir, mais uma vez, aquele estado de ainda não-pessoa, ao estar no ventre, ainda no calor daquele lugar pequeno, tão forte e tão primitivo como é a vida. É uma lucidez? um devaneio daqueles típicos matemáticos, onde apesar de construirmos cálculos perfeitos e enormes, o que conta mesmo é o resultado simples e objetivo? Como ser objetivo? Como ser tão óbvio? entre um piscada e outra, entre um cerrar de olhos e outro, continuo sendo. Sinto cada parte do corpo pulsar e nem sei. Eu sou e isso vai além desse conjunto de matérias magníficas que compõe o meu corpo, palpável, sensível e frágil. Parece que assim, em um estado de não tempo e zero hora, consigo ver claramente o vazio. Não entendo e nem precisa ser entendido. Ver o vazio é ver a si mesmo através de um infinito misterioso, e eu não me alcanço. Minha lucid

Nota sobre o não tempo

Acordo com a sensação de não saber que dia é hoje. O tempo, de fato, não existe. Tudo lá fora deve estar sendo o que. Existir e ser são coisas distintas. Nesse vazio matinal, não sou, apenas existo. Na eternidade não existe o tempo e acho que na eternidade também não deva existir a saudade dolorosa de temer a passagem do tempo e a não possibilidade de viver alguma coisa de novo. Eu um mundo paralelo, eu estaria sendo em outro lugar, em outra língua e perto de qualquer saudade rápida e contida. Escrever é a salvação de alguma coisa. Da matéria, do espírito, do estado bruto da coisa. Quando escrevo, salvo a mim mesma e quem sabe alguns que estão perto de mim. Escrevo para tentar sanar meus pensamentos. Escrevo uma alegria, uma saudade, um amor, quem sabe.  O amor nunca avisa a hora de chegar e parece também não avisar a hora de partir.  O tempo não existe, mas a materialização que fazemos dele corre, muitas vezes sem direção, e quando se tem essa limitação, a saudade se con

Segunda-feira

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Seria como um dia qualquer, mas era o meu dia. O dia que escolhi que sair de cama seria a melhor ideia. O dia que entendi que ficar parado é bom, mas que caminhar em direção a qualquer coisa é preciso. Era uma manhã chuvosa e nem sabia mais como era a sensação de acordar assim. Assim, sem esse cansaço na pele, sem a cabeça reclamando mais uma segunda-feira, sem a vontade de virar de lado e esperar que as horas passassem logo, pra que qualquer coisa acontecesse e desse sentido a esse momento Não! Por ser meu dia, não esperei muita coisa. Levantei com essas roupas aleatórias, olhei para fora e vi que a chuva havia parado. Não entendi, ainda, qual a sensação que experimentei, mas era boa. Sentei, olhei para os lados, mais dormindo do que acordada, mas havia entendido. Tudo isso não era nada além de paz de espírito, estado de graça. Quando não se tem com tanta freqüência, qualquer coisa é o suficiente pra deixar embriagado, não é? Permaneci calada, imóvel, em transe. Parece que uma boa

Das vantagens do não-ser

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Por que gostamos tanto de novelas, filmes, e mais dificilmente, teatro? Alguns dirão que é por causa da criatividade do roteiro, da fotografia bem trabalhada, mas quase todos afirmam que a beleza está na desenvoltura e talento de quem interpreta o personagem. Ora, pra quem gosta e acompanha, assistir a um ator ou atriz em seu mais novo trabalho é uma oportunidade de vê-lo se reinventar e, também, de ver o quanto o não-ser está presente entre nós e nem notamos. Angelina Jolie, além de todos os atributos que um bom ser humano pode e deve ter, ao menos visto de longe, parece ter a relação entre o ser e o não-ser de forma tão simbiótica, que às vezes não sei separar o ser e não-ser presente nela. Entro na trama, através dos olhos, muito bem utilizados, da forma de expressão, da vivacidade que existe no momento em que precisa nos convencer de que não é a Jolie ali, mas a Gia, a Lisa, a Sr. Smith. É como se ela realmente fizesse uma suspensão de consciência, uma suspensão dela mesm

Inerências de fragmentos da existência de um ser e a construção do amor.

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Parar o tempo. A sensação de congelar a ação e todo o processo de movimentação ao redor. Parar e transitar entre os espaços vagos. Parar e poder observar olhares vagos. Os olhos ficam mais pesados, quase fechados, o corpo parece flutuar, levitar. As coisas acontecem como uma espécie de cena em câmera lenta. Ocorre um mergulho intenso até o interior genuíno, onde nada é tão essencial que a sua própria verdade, seja ela qual for. A verdade sobre uma dor, um amor, qualquer coisa.Você entra com as falas, o roteiro, o desenrolar de qualquer coisa. De si mesmo. E por  costumar nos fazer esquecer razões que regem a dinâmica da vida é perigoso mas fundamental. Tanto o amor por si, quanto o amor pelo o outro. Ama-se o outro. O outro é o objeto perfeito de idealização, projeção. Tudo que queríamos em nós e projetamos no ser que pensamos amar. Eis o ponto. A dor e o sofrimento de perder alguém, seja da forma mais extrema ou nao, é tão natural e tão comum a todos, mas a forma que nos dei

A questão do tempo

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O tempo é e ao mesmo tempo parece não ser. Escuto com tanta freqüência "dê tempo ao tempo", "o tempo é o melhor remédio". De fato, ainda parece ser, mas não necessariamente o tempo que carregamos, fadados a horas, minutos e segundos. O tempo aí falado está mais ligado as nossas vivências, prioridades e fluxo de pensamento. Com o passar das coisas, uma situação fica em primeiro plano, enquanto outra não,e temos a impressão de que o tempo (espaço de tempo) nos proporcionou isso. Tudo bem! Mas como explicar, quando anos depois, uma pessoa, uma lembrança é trazida à tona e tudo que esteve em torno dela, também? E você parece se sentir da mesma forma, com toda a intensidade, até que aos poucos, começa a ligar as coisas, sua evolução, talvez, e percebe que nem é tão incômodo assim, nem bagunça tanto, mas está presente. O que é o tempo? Quanto tempo é necessário para suprir algo, superar algo? Dias, meses, anos, milênios? Ou será que basta uma suspensão de consciênci

Escrevia sobre amor como e para ninguém

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Em algum ponto da vida, escrevia sobre o amor como ninguém. Desde pequena, naqueles pedaços de papéis rabiscados, escrevia coisas aleatórias que exalavam a beleza que via em amar alguém ou alguma coisa. Costumava amar de tudo um pouco. Animais, pessoas, cores, sons, sombras. Sempre que lia ou achava que lia, me apaixonada pela fonte de todas as palavras impressas, pelo mistério do livro novo que parecia não ter pressa. E eu não tinha pressa. Não corria , não me preocupava. Chorava ao sentir o sentido das palavras, mas nunca por outra coisa. Então, mais tarde, ao começar a enxergar as coisas do mundo com um ar de malícia, percebi que o amor ia além da imaginação de uma menina, além das representações poéticas dos filmes que quase sempre procuram representar a carência existencial e interna do outro. Escrevia sobre amor como ninguém, até o dia que passei a vê-lo por outros ângulos, por entre os becos, por entre as arestas mal lapidadas que estão em todas as partes. A parti