Clarice

Clarice voltava para casa claramente cansada de tanto andar, andar, andar e não achar um lugar que lhe transmitisse paz. Já não esperava que o telefone tocasse e a pessoa do outro lado da linha lhe falasse a notícia tão esperada que mudaria seu dia. Estava assim: completamente frustrada. Como se nada pudesse piorar, começou a chover e logo muitas pessoas corriam freneticamente procurando uma abrigo, deixando-a completamente perdida em um lugar que conhecia bem. Já não aguentava tanta confusão. Sentiu uma enorme vontade de gritar, até que de repente o tempo pareceu parar e a deixou petrificada no meio de pessoas apressadas, chuva agressiva e sua própria confusão. Esse era o momento de ter um pouco de paz.
Sentou-se em um único banco seco e começou a observar todas as expressões vazias, frias, igualmente cansadas também. Desligou o telefone desistindo do telefonema, da pessoa, da notícia.Agora tudo estava muito incerto e ela não queria mais nada. Só queria ficar ali. Invisível. Insensível. Apenas seu corpo.
Deixou que a chuva tocasse o seu rosto e foi se entregando a cada gota, como se fosse uma passagem de sua vida. Lembrou-se de tantas coisas alegres e permitiu-se sorrir um pouco. Lembrou-se de tantas coisas tristes que quase ficou sem ar de tanto chorar. Já não se importava com quem estava perto ou com o que alguém poderia pensar. Aquele era o seu momento e nada mais importava. Libertou-se de forma tão forte que já nem conhecia o próprio corpo. Era apenas alma, sentimentos, um coração batendo forte. 

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