Ser ou existir, eis a raiz da questão.
Paz sem tédio. A chuva
parece enriquecer o vazio existente por pura vaidade humana. Cai forte,
agressiva, esmurra a janela, parece querer entrar. Olho para os cantos. Essas
paredes neutras, meu olhar passa por elas e procura a essência,
como uma criança procura a mãe, ao se sentir perdida. Respirar, graças a deus
ou a qualquer coisa, não é um ato voluntario. Imagina que ironia seria morrer por
ter esquecido de respirar. Na certa, esqueceria dessas coisas básicas, porque apesar
de eu amar o simples, tenho a mania incontrolável de querer ser a metafísica de
mim, quem dirá das coisas do mundo.
Ser é tão necessário e
essencial como respirar, entretanto, por poder ser algo relativamente
voluntário, muita gente deixa de ser e apenas existe, como se ser fosse apenas
seguir e cumprir regras de um jogo que nem conhece.
Com a pressa e o egoísmo correndo solto, não conseguimos perceber os detalhes do cotidiano. Não percebemos quando uma casa é pintada, uma lâmpada é trocada ou simplesmente quando nossos filhos ou cachorros crescem. Depois, em um dia vazio, quando conseguimos fixar nosso olhar em alguma coisa, nos damos conta e sentimos a ausência de lembranças, a angústia de estar perdendo tanta coisa e ainda assim não fazer nada. Eis o tempo que vivemos! Eis o tempo que agrega a matéria, nossas células e vai gastando nossas moedas.
Não ser notado tem suas vantagens, sabemos. Para quem é carente, é como ser acertado por um tiro disparado no escuro. Sempre querendo ser notado, abraçado e não nota o sorriso acanhado de quem está ao seu lado. Não nota o olhar velado de tanta coisa que precisa ser desmistificada.
Tive um insight,uma epifania recorrente que me fez entender que o corpo ocupa lugar no espaço, e que tem gente que se limita a isso. Foi dado um corpo a uma pessoa, um rosto e a alienaram do resto do ser que a constrói. De repente, vários corpos no mesmo lugar. Várias mãos entrelaçadas umas as outras. Vários braços se enroscando aos outros para formar uma corrente de misericórdia pela beleza e inebriante sensação que é ter que ser e viver.
Escuro. Chuva. Eu. Minha máquina. O barulho
dos meus dedos descarregando toda minha essência nas teclas de um instrumento
quase extinto, mas que para mim, pulsa e grita vida. Grita tudo. Eu, esse
clichê e minhas pontuações. Não me controlo. Eu só sei. Eu só sei ser, porque
apenas existir é tão pouco pra mim. Logo eu que quero, sempre quero, não me
contento, não me contenho.
Interessante. Capturou bem um momento "chuvoso".
ResponderExcluir