Ensaio de separação
Ele. Ela. Uma mesa. Três cadeiras. Ela já estava lá há cerca
de cinco minutos. Ele chegou molhado, cansado e só fez jogar sua bolsa de couro
desbotado na cadeira que estava sobrando. Silêncio. Um suspiro prolongado. Nem
dela e nem dele. Um suspiro do garçom. Não houve um diálogo. Ele apenas apontou
para o cardápio o que queria, ela idem e pouco tempo depois o garçom veio com
uma água, para ele e mais um café, para ela. Não houve uma troca de palavras.
Ficaram se olhando por longos e intermináveis minutos. Eles sabiam o que tinha
acontecido e o garçom, bom, esperto do jeito que é, captou tudo e ficou apenas
observando, como alguém que espera o clímax de um filme. Ele chorou. Ela, não.
Ele tirou um papel amassado e molhado do
bolso e entregou a ela. Ela pegou, leu, sorriu e chorou. O garçom ficou
confuso, aflito. Ninguém disse nada. Ela levantou. Ele, não. Ela foi embora.
Ele, não. Ele acenou pro garçom, que
apenas entregou a conta, pegou o dinheiro e foi embora. Ele permaneceu sentado.
Incrédulo. Ele. Uma mesa e três cadeiras. Uma preenchida com a sua bolsa cheia
de rascunhos sobre ela e a outra, apenas como lembrança de que um dia ela
realmente existiu.
Texto simples, conciso e completo.
ResponderExcluirBonito. Bonito mesmo!
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